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Crise – Resiliência – Arquétipo do Herói

Janaína R. Ferraz P. de Souza
Maria Raquel Christianini
 Milena Valelongo Manente
 Tânia Carolina Marcusso
Orientadora:
Profª Drª Regina Paganini Furigo

Resumo

Introdução: O impacto da era moderna e pós-moderna sobre a existência do homem distanciou-o dele mesmo, deixando nas mãos do outro a atribuição do sentido de sua vida. Dessa maneira um permanente estado de crise nas pessoas está sendo gerado, pois os antigos referenciais estão se perdendo e sendo substituídos pela supremacia do materialismo e pela exclusiva organização econômica-política. Objetivo: Construir um paralelo entre o estado psíquico da Crise presente no cotidiano do homem pós-moderno e o desabrochar do Arquétipo do Herói como possibilidade de Resiliência. Métodos: Através da investigação dos conceitos de crise, resiliência e mito do herói buscamos traçar as possíveis associações entre eles. Crise pode ser compreendida como um estado de alto nível de ansiedade, dificuldade de pensar, objetivar e discriminar problemas, alteração na auto-estima somada ainda, com carência de projetos para o futuro. Podemos ver a crise como uma constelação maciça de um ou de vários Complexos em sua polaridade negativa. Trata-se de conteúdos inconscientes altamente emocionais que se agrupam e formam constelações, podendo ocupar o lugar do ego. Quanto mais inconscientes os complexos para o indivíduo, maior seu poder de autonomia. Algumas das conseqüências do estado de crise envolvem falta de clareza e significado de vida e cisão do consciente e inconsciente, criatividade e resiliência. São consideradas pessoas resilientes aquelas que passaram por eventos com presença de sofrimento, mas se adaptaram positivamente frente às situações adversas, encontrando caminhos para a reconstrução de suas vidas. Desenvolvimento: As narrativas sobre os heróis e seus desafios acessam um importante arquétipo de descida à escuridão da psique. Geralmente no mito, o herói passa por etapas em sua jornada envolvendo um Chamado: fase em que o Herói se moverá para regiões distantes, estranhas, com reinos sombrios e vivenciando façanhas sobre-humanas. Em seguida ocorre a Passagem por provas de purificação: fase de escuridão da psique, em que o herói perde o convívio com o conforto do familiar e enfrenta monstros em nome de conseguir a quietude interior, exigindo dele o abandono da posição de imaturidade para a coragem e auto-responsabilidade. A última fase é o Retorno com a reconciliação do individual com o universal, acompanhado de algo bom que é trazido pela sua experiência de mergulho na jornada. Podemos entender a trajetória do Herói como o arquétipo que engloba o passar pela crise, o amadurecer, o estar pronto para viver e a resiliência. Conclusão: O caráter Arquetípico do Herói pode ser despertado em nós nos momentos de Crise, vivenciados no desemprego, no casamento e nas mudanças. A Resiliência, quando compreendida como símbolo do potencial flexível e transformador presente no interior do homem, é uma saída para lidar com a desorganização social e individual marcantes em nossa época.

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Estudo do desenvolvimento moral de crianças de 6 anos por meio do conto infantil João e Maria.

Janaína Ramalho Ferraz Pereira de SOUZA
Orientadora: Profª Ms. Silvana Nunes Garcia BORMIO
Co-orientador: Profº Ms. Rinaldo CORRER

 
Introdução/Revisão de Literatura

Os Contos Infantis ajudam a criança a fazer sua opção sobre quem ela quer ser e facilitam o desenvolvimento ulterior de sua personalidade que será construída. Também auxiliam as crianças em seu processo de desenvolvimento, isto é, mostram à criança questões humanas que ela vivencia, mas não tem condições de verbalizar. Os contos dão forma aos desejos e emprestam-se como cenários de seus sonhos, aguçando a imaginação e favorecendo o processo de simbolização.

Há todo um processo para a compreensão do significado da vida que se inicia na mais tenra infância e não subitamente. A compreensão deste significado nos conduz à maturidade psicológica. Os que não encontram significado nas suas vidas perdem o sentido de viver e podem entrar em depressão.

Os pais, na sua grande maioria, exigem que suas crianças pensem, pois esquecem ou ignoram que este é um processo gradativo que se inicia na infância. É o mesmo que exigir da criança que comande o crescimento do seu corpinho imediatamente. Uma das tarefas primordiais entregue aos pais é de ajudar seus filhos a encontrarem significados na vida. Com o desenvolvimento centrado no melhor entendimento de si mesmo, a criança se capacita para uma melhor compreensão em relação às pessoas e ao seu meio ambiente.

Para Urban (2001 p. 32-33), a criança necessita, urgentemente, do pensamento mágico contido nos contos infantis que falam dos problemas interiores dos seres humanos e sobre as soluções corretas para seus predicamentos em qualquer sociedade.

Os contos infantis ensinam pouco sobre as condições de vida na moderna sociedade de massa, foram inventados muito antes que ela existisse através deles pode-se aprender a lidar com as situações difíceis, mais do que com qualquer outro tipo de estória, dentro de uma compreensão infantil.

De acordo com Coelho (1981), a importância da Literatura Infantil, nestes tempos de crise cultural é de alegrar, divertir ou emocionar o espírito dos seus pequenos leitores ou ouvintes. De maneira lúdica os leva a perceberem e interrogarem a si mesmos e ao mundo que os rodeia, orientando seus interesses, suas aspirações, sua necessidade de auto-afirmação ou de segurança, ao lhe propor objetivos, idéias ou formas possíveis ou desejáveis de participação social.  
 
O caminho para a redescoberta da literatura infantil em nosso século foi aberto pela psicologia experimental que, revelando a inteligência como um elemento estruturador do universo que cada indivíduo constrói dentro de si, chama a atenção para os diferentes estágios de seu desenvolvimento, da infância à adolescência, assim como sua importância para a evolução e formação da personalidade do futuro adulto.

A sucessão das fases evolutivas da inteligência (ou estruturas mentais) é constante e igual para todos. As idades correspondentes a cada uma delas podem mudar, dependendo da criança ou do meio em que ela vive.

Segundo Bettelheim (2000):

Os contos de fadas são significativos para a criança que ainda não consegue compreender o sentido dos conceitos éticos abstratos e os conflitos que estão ocorrendo devido à fase de desenvolvimento que está passando. Eles trazem mensagens à mente consciente, a pré-consciente e a inconsciente, em qualquer nível que a mente esteja funcionando no momento. Lidando com problemas humanos universais, particularmente os que preocupam o pensamento da criança, estas estórias falam ao ego em germinação e encorajam o seu desenvolvimento, enquanto aliviam as pressões pré-conscientes e inconscientes. À medida que as estórias se desenrolam, dão validade e corpo às pressões do id, mostrando caminhos para satisfazê-las e que estão de acordo com as requisições do ego e do superego.

Ainda em Bettelheim (2000, p. 106) encontramos sobre a significação dos contos infantis para as crianças que:

A mensagem dos contos de fadas transmite o seguinte recado às crianças e de uma forma múltipla: que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana – mas que se a pessoa não se intimida, mas se defronta de modo com as opressões inesperadas e muitas vezes injustas, ela dominará todos os obstáculos e, ao fim, emergirá vitoriosa.

Não podemos limitar a significação dos contos de fadas, pois apesar deles serem próprios para crianças, sua compreensão é bastante relativa de acordo com a idade maturacional. Em Oliveira (2004, p. 11) vemos que:

Os contos de fadas têm um determinado momento para serem introduzidos no desenvolvimento da criança, variando de acordo com o grau de complexidade de cada história. Os livros adequados à faixa etária de 3 aos 6 anos devem propor vivências radicadas no cotidiano familiar da criança e apresentar determinadas características estilísticas. Essa fase é denominada como segunda infância, onde dos 6 anos completos aos 6 anos e 11 meses, aproximadamente, contém as seguintes características:
– Interesse por ler e escrever. A atenção da criança está voltada para o significado das coisas;
– O egocentrismo está diminuído. Já inclui outras pessoas no seu universo;
– Seu pensamento está se tornando estável e lógico, mas ainda não é capaz de compreender idéias totalmente abstratas;
– Só consegue relacionar a partir do concreto;
– Começa a agir cooperativamente;
– Textos mais longos, mas as imagens ainda devem predominar sobre o texto;
O elemento maravilhoso exerce um grande fascínio sobre a criança“.

Coelho (1981) também caracteriza a fase de 3 à 6 anos como segunda infância, a da fantasia e imaginação. Afirma que os livros para essa fase devem ainda apresentar muitas imagens, com textos curtos e elucidativos, pois nessa fase a linguagem está se consolidando e as palavras devem corresponder às figuras. As ilustrações necessitam corresponder à verdade do que as estórias estão contando. Piaget chama esta fase de animista, pois a criança considera que todas as coisas são dotadas de vida, de vontade e de intencionalidade.

No texto A psicanálise… (2004):

Aprendendo e sabendo o que acontece dentro do seu “eu inconsciente”, quando vai enfrentar as “dores” do crescimento psicológico: decepções narcisistas, dilemas edípicos, rivalidades com os irmãos, dependências mantidas desde a tenra infância, a criança precisa se cercar dos sentimentos de auto-avaliação e de individualidade além de um sentido de obrigação moral. Através da sua fantasia, quando se perde nos seus devaneios a respeito do que disseram ao seu inconsciente os heróis das estórias de fadas. A criança irá adequar às pressões do seu inconsciente às suas fantasias conscientes o que irá capacitá-la lidar com todo esse conteúdo. Quando se consegue que a imaginação trabalhe o material fornecido pelo inconsciente, danos potenciais serão reduzidos e acontecem resultados muito positivos.

A linguagem realmente é um fator marcante e importante nesta fase de desenvolvimento da criança. Portanto, São Paulo, Secretaria, 2004, p. 3 postula que:

A criança de 6 anos deve, necessariamente, ser familiarizada com a natureza do texto escrito e o ambiente escolar deve possibilitar, efetivamente, esse contato. A leitura do texto escrito pelo professor é fundamental, pois o aluno gosta de imitar atos de leitura (pseudoleituras). Deve-se considerar que é usando a língua em situações comunicativas que a criança termina por descobri-la e reconstrui-la como sistema. Portanto, ela deve ser apresentada de forma contextualizada, para que, por meio de sua utilização, o aluno venha a dominá-la e a perceber sua manifestação lúdica e simbólica na magia dos contos de fadas, o vocabulário infantil é ampliado pelo estímulo à leitura dos contos de fadas e similares, pois essa leitura e não a massificação repetitiva é o meio mais eficaz para enriquecer o linguajar da criança e se constitui na chave-mestra do processo de ensino e de aprendizagem.

De acordo com Brenner (1987) a criança deve receber ajuda para dar sentido ao seu turbilhão de sentimento e encontrar significado para sua vida frente aos conflitos proporcionados pela sua fase de desenvolvimento, assim como os profissionais que trabalham com crianças e pais precisam compreender esses aspectos maturacionais da criança. Assim sendo, os contos de fadas contribuem para a compreensão dessas questões.

Conforme Coles (1998), um plano imaginado ou esquematizado é um mero prelúdio para um comportamento da vida diária, contudo, a longo prazo, a soma dos planos imaginados transformados em ação torna-se o “caráter” de alguém.

Por meio da imaginação e fantasia causada pelo conto infantil é bem possível que se esteja montando o palco para ações posteriores, tendo em vista que listas de boas qualidades, de valores e virtudes podem ser esquecidas tão rapidamente quanto são memorizadas.

Coles (1998), em sua definição sobre boas crianças retrata que:

Boas crianças são meninos e meninas que em primeiro lugar aprenderam a levar a sério a verdadeira noção, a necessidade, da bondade – uma vida de acordo com a Regra de Ouro, um respeito pelos outros, um compromisso da mente, do coração e do espírito com a família, a vizinhança, a nação – aprendendo também que a questão da bondade não é abstrata, mas antes concreta e expressiva: como transformar a retórica da bondade em ação, momentos que confirmam a presença da bondade em uma determinada existência.

Não se pode vencer todas as maldades, malícias e erros que há no mundo e depois querer desfrutar de uma vida tranquila e da colheita moral dessa vitória. A pessoa que busca viver corretamente torna-se uma testemunha alerta não apenas dos outros, como também de suas próprias tensões éticas quando estas lançam seus vários sinais, se despertando pelos riscos à frente ou de situações não muito fáceis de serem solucionadas ou até de sentimentos e “tentações” (se assim puderem ser denominadas) e as racionalizações que os justificam. Como se fossem testadas a todo minuto para fortalecerem esse seu objetivo que não se mostra fácil.

O desenvolvimento do juízo moral na criança passa por uma moral heterônoma – que é baseada em relações unilaterais – mas, não se limita a ela. É necessário construir uma moral autônoma, fundada em relações de reciprocidade e respeito mútuo.

Ao entender que nesse processo a anomia (fase em que há ausência de regras) corresponde à etapa inicial do desenvolvimento do juízo moral infantil, passando pela heteronomia (fase em que as regras são de origem externa) rumo à autonomia (etapa em que a origem da regra está no próprio indivíduo), a moral da autonomia (último momento do processo de desenvolvimento do juízo moral) deve ser o objetivo de toda educação moral.

Não tem como analisar o desenvolvimento moral na criança sem se deparar com as relações adulto-criança e criança-criança. Essas relações apresentam muitas características, as quais poderiam ser analisadas a partir de várias vertentes como nos aspectos sociológicos, antropológicos, filosóficos, pedagógicos etc., assim como as características intrínsecas a esses tipos de relações.

O próprio meio em que vive a criança torna semelhante a ela uma gama de obrigações sem mesmo proporcionar que a criança entenda suas obrigações. Mas o meio em que vive a coloca frente a regras que serão assumidas de forma inconsciente. Esse tipo de moral é denominado por Piaget de moral da coação. Nesse âmbito, o respeito e o conhecimento das regras se delimita a idéia de cumprimento. Na verdade, esta situação é chamada de realismo moral (tendência em considerar os deveres e os valores que foram impostos como subsistentes em si).

Se pensarmos em uma educação moral, esta deve ser muito refletida, pois numa primeira instância, deve-se tomar conhecimento de como se desenvolve a moralidade na criança, já que esta depende também do desenvolvimento cognitivo. É neste contexto, portanto, que se devem conhecer os meios adequados para desenvolver a capacidade do juízo moral na criança.

Para Piaget (2003), o bem é o equilíbrio absoluto entre sociedade e indivíduos, sendo que o mal se torna o contrário, ou seja, o desequilíbrio. Existe desequilíbrio quando tanto os interesses individuais predominam sobre a coletividade quanto à soberania desta arrebata a autonomia do indivíduo. Porém, em ambos os casos o que ocorre é uma ação egoísta dos indivíduos e da sociedade.

Se o respeito é conseqüência da lei moral ou é condição prévia desta não se sabe. Entretanto, sabe-se que o respeito está intimamente ligado a um considerável desenvolvimento moral no ser humano relacionado às obrigações morais.

Freitas (2003) coloca que a moral deve-se pautar por uma vontade boa, por um querer reto. Essa é a condição necessária e suficiente para que um sujeito seja moral. O valor moral de uma ação não depende de seu sucesso nem de sua utilidade, mas sim, de sua vontade e intenção. 

Freitas (2003) acrescenta sobre a tese kantiana que a moral fundamenta-se na autonomia do sujeito: cada um está submetido a uma lei, válida para todo ser racional e que se torna reconhecida como sua própria lei (princípio da autonomia). A moralidade distingue-se da religião e do direito, onde suas regras são exteriores aos sujeitos (princípio da heteronomia). 

Agir moralmente bem não significa agir de acordo com as regras pré-estabelecidas pela sociedade ou mesmo acatar as leis que nos cercam. Agir moralmente é agir com bondade, com respeito e dignidade, proporcionando ao ser humano usar desse artifício para sua evolução psíquica.

Piaget (1996) concorda com kant de que possa haver duas tendências morais: autonomia e heteronomia. Porém, como psicólogo, mostra que estas duas morais são construídas durante o desenvolvimento da criança e que a evolução de uma sobre a outra dependerá de vários fatores como as relações sociais estabelecidas durante seu desenvolvimento.

Piaget (1996) entende que a moralidade começa pelo respeito que adquirimos às regras que nos cercam, porém, é necessário observar como as crianças adquirem ou constróem esse respeito e de que forma ele é, além de também pontuar o respeito que a criança tem pela pessoa que impõe a regra.

Todas essas reflexões e pontuações se tornam necessárias quando se cobra um comportamento moral da criança sem ao menos perguntar a ela o que é moral. Sim, pois não se pode cobrar de alguém o que ela não pode e não consegue oferecer e, se não consegue é porque esse julgamento não foi construído em seu desenvolvimento ou se construiu de forma errônea. Fala-se em construção, pois o desenvolvimento moral é construído no ser humano em um processo lento no decorrer de seus estágios de desenvolvimento. 
Contudo, esta compreensão requer do educador, pais ou outros profissionais que estão ligados com crianças um respeito, um grau de evolução que seria capaz de relevar um comportamento inadequado por levar em consideração o nível de desenvolvimento do Julgamento Moral que foi construído para aquela criança. Porém, este relevar não quer dizer ficar passivo à situação, mas principalmente ajudar a construir novos meios de desenvolvimento da moral àquele indivíduo usando instrumentos adequados como os contos infantis. Essa atitude de respeito à criança também estaria refletindo o grau de desenvolvimento do Julgamento Moral do educador, pais ou outros profissionais.   

Justificativa

Os contos infantis são expressões de nosso mundo psicológico profundo. Podem ser vistos como pequenas obras de artes, porém, capazes de nos envolver em seu enredo e assim, investigar nossas mentes. Em especial, o conto infantil João e Maria traz um rico repertório que propicia o entendimento da diversidade de conteúdos conflitantes que ocorrem com a criança em questão.

Nos estágios realizados com crianças percebemos como os contos infantis são meios de comunicação que a criança obtém para transpor conteúdos do inconsciente para o consciente e para compreender o mundo.

A pesquisa contribuirá no âmbito científico para um estudo mais profundo sobre o desenvolvimento moral por meio do conto infantil João e Maria, auxiliando as pessoas que trabalham com crianças de seis anos, como pais, professores ou outros profissionais a terem um meio para compreender os conflitos que também são conseqüentes da fase em que a criança está inserida.

Objetivo Geral

Investigar o desenvolvimento moral da criança de seis anos por meio do conto infantil João e Maria no processo específico e singular de seu desenvolvimento.

Objetivos Específicos

– Pesquisar a fase de desenvolvimento da criança de seis anos;
– Observar o significado que as crianças de seis anos atribuem ao conto infantil João e Maria;
– Buscar a importância da fantasia e da imaginação que o conto infantil provoca na criança;
– Identificar as condições do desenvolvimento moral da criança de seis anos.

Metodologia

Participarão deste estudo de campo prospectivo, quali-quantitativo, sessenta crianças em idade de seis anos, sendo trinta do sexo masculino e trinta do sexo feminino.

As crianças serão selecionadas nas escolas do município de Pirajuí – SP, sob autorização de seus responsáveis por meio de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido a participar da pesquisa. Elas serão submetidas a ouvir o conto infantil João e Maria, sendo que logo após serão indagadas com linguagem adequada por meio de um questionário elaborado com o objetivo de se obter quais os sentimentos, julgamentos e conteúdos que se manifestaram enquanto ouviam o conto e qual a significação que o mesmo estabelece para as crianças.   

Referências

A PSICANÁLISE dos contos de fadas. Jornal Infinito. Disponível em: <http://www.iornalinfinto.com.br/pagina impressão series.asp?cod=38>. Acesso em: 26 ago. 2004.
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
BRENNER, C. Noções básicas de psicanálise: introdução à psicologia psicanalítica. 4. ed. São Paulo: Imago, 1987.
COELHO, N. N. A literatura infantil. Brasília: Quiron, 1981.
COLES, R. Inteligência moral das crianças. Rio de Janeiro: Campus. 1998.
FREITAS, Lia. A moral na obra de Jean Piaget: um projeto inacabado. São Paulo: Cortez, 2003.
OLIVEIRA, C. M. O. Livros e infância. Disponível em: <http://www.graudez.com.br/litinf/livros.htm>. Acesso em: 14 set. 2004.
PIAGET, Jean et al. Cinco estudos de educação moral. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.
RADNO, Glória. Contos de fadas e realidade psíquica. A importância da fantasia no desenvolvimento. Disponível em:
<http://www.eco.ufri.br/semiosfera/conteudo rés gradino.htm>. Acesso em: 26 ago. 2004.
SÃO PAULO. Secretaria da Educação. Construção da linguagem oral e escrita.
Disponível em:
<http://www.se.df.qov.br/subsecretarias/subep/Educacaolnfantil/oquee.htm>. Acesso em: 14 set. 2004.
URBAN, Paulo. Psicologia dos contos de fadas. Revista Planeta, n. 345, p. 32-33, jun. 2001.
Bibliografia Consultada

SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2000.

ANEXO 1

Conto João e Maria
(Baseado na obra dos Irmãos Grimm)

Havia uma vez um lenhador muito, muito pobre, que vivia próximo a um enorme bosque com sua esposa e seus dois filhos. O menino se chamava João e a menina Maria. Sempre andavam escassos de tudo e, chegou um dia que o lenhador não tinha sequer comida suficiente para dar à sua família. Certa noite, em que não conseguia dormir, acordou sua esposa para falar com ela: – Como vamos alimentar nossos filhos se nem sequer há bastante para os dois? – disse-lhe:
– Eu lhe direi o que podemos fazer. – respondeu a mulher. – Amanhã cedo levaremos as crianças para a parte mais espessa do bosque, acenderemos uma fogueira e lhes daremos um pedaço de pão; logo, iremos trabalhar e os deixaremos ali sozinhos. Não poderão encontrar o caminho de volta para casa e nos livraremos deles.
– Não, mulher – disse o lenhador. – Me nego a fazer algo assim. Você por acaso acha que tenho o coração de pedra? Os animais selvagens sentiriam seu cheiro e os devorariam. – Que bobo você é! – exclamou a mulher.
– Então, o que fazemos? Morremos de fome os quatro? – Muito bem, não façamos nada, mas então continue cortando madeira para fazer quatro ataúdes – disse, e não o deixou sossegado até que conseguiu convencê-lo. As crianças, que não podiam dormir por causa da fome, escutaram as palavras de sua madrasta. Maria se pôs a chorar:  – Estamos perdidos – disse ao seu irmão. – Não – disse João. – Não tenha medo, encontrarei uma maneira de escaparmos.
Quando escutou seus pais roncarem, levantou-se e saiu pela porta de trás. Era noite de lua cheia e as pedrinhas que havia na entrada da casa brilhavam como se fossem de prata. João pegou quantas cabiam nos bolsos. Logo voltou a entrar. 
 No dia seguinte, antes que o sol saísse, a mulher despertou as crianças:
– Levantem, vamos ao bosque cortar lenha! – disse, e deu a cada uma delas um pedaço de pão. – Aqui têm para o café da manhã. E não comam tudo, porque não tem mais. Maria colocou os dois pedaços de pão no bolso de seu casaco, pois João já tinha os bolsos cheios de pedrinhas. Dois minutos depois começaram a andar. Depois de caminhar um trecho, João parou e olhou para a casa, movimento que repetia várias vezes. – João! – disse-lhe uma das vezes seu pai – O que está olhando? Não fique para trás, você pode se perder.
Mas na verdade João nem sequer havia prestado atenção na casa; virava de costas para deixar cair uma pedrinha branca. Chegando à parte mais densa do bosque, o pai disse: – Agora, filhos, vão buscar lenha, eu vou acender uma fogueira para que vocês não tenham frio. João e Maria juntaram bastante lenha para fazer uma pilha do tamanho de uma pequena colina. Seu pai colocou fogo nela e, no momento que começou a arder foi a mulher que se dirigiu às crianças: – Agora se deitem junto da fogueira, crianças. Seu pai e eu vamos cortar lenha. Quando terminarmos, viremos buscá-los. João e Maria se sentaram junto ao fogo, e ao meio-dia comeram seus pedaços de pão. Como estavam há muito tempo ali quietos, acabaram por dormir. Quando despertaram, já era de noite. Maria começou a chorar. João a consolou. – Vamos esperar que a lua esteja no alto do céu – disse ele – e encontraremos o caminho de casa.
Quando a lua apareceu, os dois seguiram o caminho que as pedras brancas marcavam. Caminharam toda à noite e ao amanhecer chegaram à sua casa. Chamaram à porta e a madrasta abriu, dizendo: – Por que dormiram durante tanto tempo? Já estávamos pensando que não voltariam. O lenhador ficou muito alegre de ver seus filhos. Sua consciência não lhe deixara dormir.  Mas os tempos de escassez não haviam acabado, e as crianças em suas camas voltaram a escutar uma conversa entre seu pai e sua mulher.
– Já comemos tudo, só nos resta meia fogaça de pão. Temos que desfazer-nos das crianças. Desta vez as levaremos mais longe, para que não possam encontrar o caminho de volta. Não há outra maneira de nos salvarmos. O pai sentiu um grande peso no coração. “Preferia dividir com eles o pouco que nos resta”, pensou, mas sabia que sua esposa não escutaria seus argumentos. Como as crianças estavam acordadas e ouviram a conversa, João se levantou enquanto os pais dormiam. Queria pegar pedrinhas, mas a porta estava fechada com chave e ele não pôde sair.
De manhã, a mulher acordou as crianças e deu um pedaço de pão para cada uma. João partiu o seu em migalhas, e enquanto se dirigiam ao bosque, ia jogando-as pelo caminho. O casal os conduziu mais longe que nunca, a um lugar em que jamais haviam estado. Voltaram a acender uma fogueira, e a mulher disse:
– Sentem-se aí, crianças, e durmam. Nós vamos ao bosque cortar madeira. Voltaremos pela tarde, quando terminarmos. Ao meio-dia, Maria dividiu com João seu pedaço de pão, tendo em vista que ele havia jogado o seu sobre o caminho. Depois dormiram. Passou a tarde, e ninguém foi buscar as crianças, que acordaram bem tarde da noite. – Não se preocupe – disse João, consolando sua irmã – Depois que sair a lua, poderemos ver as migalhas de pão que eu fui deixando cair, e encontraremos o caminho de casa. Mas as crianças não puderam encontrar o caminho, pois os pássaros foram comendo as migalhas que João havia deixado.
– Não importa – disse o menino à sua irmã – Já encontraremos a maneira de voltar.
Infelizmente, isso não foi possível. Andaram durante toda à noite e todo o dia seguinte, mas não puderam encontrar um caminho por onde pudessem sair do bosque. Passaram muita fome, pois só encontraram alguns feijões. No final do dia, estavam tão cansados que se deitaram debaixo de uma árvore e dormiram. No terceiro dia desde que saíram da casa de seu pai, voltaram a caminhar, mas só conseguiam entrar cada vez mais no bosque. Ao meio-dia viram um bonito pássaro branco pousado em um ramo. Tão doce era o seu canto que pararam para escutá-lo. Quando terminou de cantar, levantou vôo diante deles.

As crianças o seguiram, chegando a uma casinha sobre a qual o pássaro pousou. Ao aproximar-se mais da casa, perceberam que era feita de pão e coberta de bolos, enquanto a janela era de açúcar cristalizado. – Finalmente poderemos comer! – exclamou João – Eu comerei um pouco do telhado, Maria e você podem comer uma parte da janela. – disse, e quebrou um pedaço do telhado para prová-lo. Maria se aproximou da janela e começou a comê-la. Nesse momento, ouviu-se uma voz melosa, que vinha do interior da casa: “- Quem será que está comendo todo o doce da casinha? Irei depressa, correndo, dar-lhe-ei um bom tapinha.”
As crianças responderam: “- Ninguém come seu docinho. Fique calma, minha bela. É apenas um ventinho soprando pela janela.”
E continuaram comendo sem se preocupar. De repente, a porta se abriu e saiu uma senhora apoiada em uma bengala. Eles se assustaram tanto que deixaram cair o que tinham nas mãos. A velhinha fez um gesto com a cabeça e disse: – Oh, que bom, crianças! Passem e sentem-se comigo, não tenham medo. Segurou os dois pelas mãos e os levou para sua casa, dando-lhes uma deliciosa refeição: bolos, doces e frutas. Quando terminaram, perceberam que havia duas belas caminhas preparadas para eles e, logo que se deitaram começaram a dormir como benditos. A velhinha, na realidade era uma velha bruxa que havia seguido as crianças de muito perto. As bruxas têm olhos vermelhos e vista curta, mas tem o olfato muito desenvolvido, especialmente para cheirarem humanos. Só construiu a casinha de pães para agarrá-los.  – Já os tenho, agora não podem escapar! – ela pensava. De manhã cedo, antes que as crianças acordassem, a primeira coisa que a bruxa fez foi olhá-los. Ao ver suas bochechas rosadas, sorriu e pegou João para levá-lo ao estábulo e o trancou lá. Logo voltou para buscar Maria e a despertou:
 – Levante preguiçosa, e faça alguma comida para o seu irmão. Quando ele engordar eu o comerei. Maria começou a chorar, mas sabia que não tinha outra solução senão fazer o que a bruxa ordenava. Prepararam uma magnífica refeição para o pobre João. Maria, contudo, só comeu conchas de caranguejo. Todas as manhãs, a velha bruxa de aproximava do estábulo. – João – chamava-o – ponha um dedo para fora, para eu ver como você está engordando. Mas João sempre colocava um osso, a bruxa que via muito, muito mal, confundia com um dos dedos do menino, sem entender por que demorava tanto para engordar. Depois de um mês perdeu a paciência: – Maria! – chamou ela. – Vá colocar água no fogo. Não me importa que esteja magro, amanhã eu comerei o João. Maria não conseguia parar de chorar. – Meu Deus, ajude-nos! – dizia, enquanto pegava água.
 De manhã cedo, Maria teve que sair para acender o fogo para esquentar a água.  – Primeiro, prepararemos o pão – disse a bruxa.
– Já esquentei o forno e fiz a massa. – disse, empurrando Maria para o forno, de onde saíam enormes chamas. – Agora entra aí e olha se já está bastante quente para fazer o pão. Na verdade, o que a bruxa pretendia era fechar o forno enquanto Maria estivesse lá dentro, porque também queria comê-la no mesmo dia. Mas Maria percebeu suas intenções. – Não sei o que fazer, como entro?
– Estúpida! – reclamou a bruxa – Não está vendo que a porta é muito grande? Olha, até eu caberia nele – disse, aproximando-se do forno e colocando a cabeça dentro dele. Quando Maria viu que a velha colocava a cabeça, deu-lhe um empurrão e a bruxa caiu dentro do forno. Maria fechou a porta de ferro e correu o ferrolho. Como gritava a bruxa! Foi horrível, mas Maria saiu correndo, deixando que morresse miseravelmente. A menina foi procurar o irmão, abriu a porta do estábulo e chamou:
– João! estamos livres, a bruxa morreu! João saiu do estábulo e eles festejaram por estarem livres finalmente! Como já não havia motivo para ter medo, entraram na casa e ali encontraram caixas de pérolas e pedras preciosas.
– São muito bonitas. – disse João, enchendo seus bolsos com elas. – Eu também quero levar algo para casa – disse Maria, e improvisou um cofre no seu avental.
– Bem, agora vamos embora – disse João. – Nos afastemos do bosque das bruxas.
Depois de caminhar durante horas, chegaram a um grande lago. – Não há nenhuma ponte. – disse João. – Nem há nenhum barco – acrescentou Maria
– Mas olhe ali, tem um grande cisne. Vou ver se ele nos ajuda. – Amigo cisne quer servir de barco para podermos atravessar o lago? O cisne concordou e eles se sentaram em suas costas. Quando chegaram do outro lado do lago, agradeceram-lhe. Bem em frente havia uma estradinha e as árvores lhes pareciam familiares. No final de um trecho viram a casa de seu pai à distância. Começaram, então, a correr, e entraram muito eufóricos, abraçando seu pai com alvoroço. Sua mulher havia morrido, mas não era isso o que mais havia preocupado ao homem que não havia vivido um só momento de tranqüilidade desde que abandonou seus filhos no bosque. Maria sacudiu seu avental e as pérolas rolaram pela casa, enquanto João tirava dos seus bolsos um punhado de pedras preciosas atrás de outro. Graças a elas, terminou seu sofrimento e puderam viver felizes para sempre.

ANEXO 2

Questionário

1- O que você achou da idéia da madrasta de deixar os irmãos no bosque?
2- O pai deles acabou concordando com a idéia da madrasta de deixar João e Maria no bosque. O que você acha disso?
3- Na sua opinião, porque o pai das crianças concordou em abandoná-las na floresta?
4- O que você faria se fosse o pai de João e de Maria ?
5- Como João e Maria se sentiram quando perceberam que seus pais não voltaram para buscá-los no bosque?
6- Maria dividiu seu pão com João, pois ele havia jogado o seu para marcar o caminho, o que você achou disso?
7- Os pássaros comeram todo o pão que João havia deixado no caminho para poder voltar para sua casa.
• Por que você acha que os pássaros fizeram isso?
• Eles fizeram uma coisa certa ou errada?
8- João e Maria comeram a casinha de doces sem pedir a permissão da dona. O que você acha disso?
9-  A bruxa construiu a casinha só para chamar a atenção das crianças; ela é boa ou má?
10-  As crianças mentiram para a bruxa dizendo que não estavam comendo os doces da casinha e que era apenas o vento que soprava na janela.
a. Porque eles mentiram?
b. Você acha que eles fizeram bem ou mal em mentir?
11-  As crianças podiam ter entrado e dormido na casa de uma pessoa que não conheciam, como no caso, a bruxa?
12-  O que você pensa do fato de Maria ter empurrado a bruxa no forno, sabendo que ela podia morrer?
13-  João e Maria podiam pegar as pérolas e pedras preciosas que estavam na casa da bruxa para levar para seu pai?
14-  João e Maria voltaram para a casa de seu pai. Isso significa que eles não guardaram mágoa por ele tê-los largado na floresta. O que você acha disso?

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